AGOSTO LILÁS

AGOSTO LILÁS

Nesse ano de 2024 a Lei Maria da Penha comemora 18 anos de existência. Na nossa sociedade, é um marco ter 18 anos, pois é quando atingimos maioridade, mais liberdade e consequentemente mais responsabilidade.

Nessa data tão especial, é de extrema importância que nossa sociedade se aproprie do grande mal que transversaliza a relação de cada mulher brasileira, a cultura do ódio, o olhar objetificado, a não legitimação da existência feminina, a normalização da violência de todas as ordens.

Ao atingir a maioridade, adquirimos o livre arbítrio de ir e vir, porém nos responsabilizamos por cada ato. Nesse instante, é assim que enxergo a condução de algo que clama por maiores intervenções e seriedade. Hoje, graças a trágica história e grande coragem e obstinação de Maria da Penha, temos liberdade para falar no assunto, para denunciar, para ter amparo legal. Hoje, muitas “Marias” recomeçaram suas vidas após por anos viverem verdadeiros infernos em seus lares. Hoje, futuras “Marias” tem o ciclo de violência rompidos e poderão viver como bem entenderem.

Porém, a pergunta que não sai de dentro da pessoa que escreve é : Como estamos educando nossas crianças para o mundo? Ainda normatizamos a violência? Ainda queremos determinar como será o comportamento das meninas que habitam o ventre de suas mães? Estamos dispostos a quebrar paradigmas e não ter controle e nem ditar regras?

Não é estranho toda a humanidade nascer de uma mulher, e não estou aqui dizendo que toda mulher deve e será o lar de alguém; porém não há como negar que toda a humanidade nasceu de uma mulher e ainda assim, nós maltratamos, de forma direta ou não toda mulher nesse mundo.

Como uma mulher preta, mãe de duas meninas pretas, me uno às tantas Marias para construir diálogos onde possamos construir pontes e não mais destruição. Me preocupo em fortalecer a auto estima das minhas filhas para que essas possam ser livres no seu caminhar. Mesmo empenhando o mais árduo trabalho diário para fortalecimento sei que não será o suficiente, haja vista que nenhuma vida se descola do contexto social.

Que possamos nos inspirar nas inúmeras Marias, que sempre tiveram grandeza e força, pois suportaram dores imensuráveis, mas que ao se apropriarem da sua existência empregaram suas forças para vida e seguem nos inspirando e movendo a estrutura dessa sociedade.

Juliana Mogrão
Psicóloga e Dola

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